Estação Kyros

Seu espírito de aventureiro permitira que você fosse para a Estação Kyros?

1/4/20244 min read

Estação Kyros

Seu espírito de aventureiro permitiria que você fosse para a Estação Kyros?

Capítulo 1: A Proposta Congelada

A mensagem chegou por e-mail numa madrugada abafada de verão. Assunto: “Oportunidade Única — Estação Polar de Kiros”. Meia linha chamava a atenção: $500.000 por uma semana. Era claramente um erro ou um golpe, pensei. Mas ao clicar, fui levado a uma página simples, quase espartana. Havia um vídeo institucional de dois minutos com instruções claras, uma lista de tarefas e um contrato.

Kiros ficava na Antártida, isolada a centenas de quilômetros de qualquer outra instalação. A proposta era gerenciar operações básicas por sete dias. Energia, comunicação, amostras, observação e segurança. Nada impossível.

A única condição era seguir os cinco protocolos com precisão absoluta. Eles não detalhavam as consequências além de frases vagas: “algo que dorme no gelo”, “não confirmar presença”, “curiosidade é uma sentença”.

Topei. Talvez pelo dinheiro. Talvez por orgulho. Talvez por não acreditar no que estava lendo. Uma semana, pensei. Eu só precisava sobreviver por uma semana.

Capítulo 2: As Portas de Kiros

O helicóptero me deixou a 300 metros da entrada, evitando o “perímetro externo”. Vento cortante, neve até os joelhos. Kiros era um conjunto de módulos metálicos presos ao solo por estacas congeladas. A estrutura parecia abandonada.

Entrei com o cartão magnético enviado por correio. A porta de ar se fechou atrás de mim, e a estação ganhou vida. As luzes se acenderam em sequência, como olhos se abrindo após um sono longo.

No saguão principal, uma tela se ativou com meu nome. “Gerente Operacional Temporário: Rafael Torres”. Abaixo, um cronômetro começou a marcar os sete dias.

No armário, o “Manual de Procedimentos” — grosso como uma bíblia, dividido em cinco seções. Anexado a ele, um bilhete manuscrito: Não erre. Você não quer vê-los.

Capítulo 3: O Primeiro Desligamento

Na primeira madrugada, um alarme me acordou. “FALHA DE ENERGIA — SETOR C”. Pulei da cama e corri pelos corredores congelados.

O painel de controle piscava em vermelho. Lembrei da Regra Um: Se os equipamentos ficarem mais de 10 minutos sem funcionar, algo que dorme no gelo pode acordar.

Sete minutos e quarenta segundos. Reiniciei o gerador auxiliar, e aos poucos, o som da estação voltou ao normal.

Mas ali fora, na neve escura, vi uma marca longa, como um rastro arrastado. Algo havia se movido.

Capítulo 4: A Amostra Errada

As instruções para o manuseio das amostras eram meticulosas: “Luva tripla, temperatura constante, descarte imediato em câmara pressurizada.”

No quarto dia, ao examinar uma amostra de solo profundo, percebi que havia um brilho azulado. O manual não mencionava isso. Hesitei por um segundo. E nesse segundo, respirei fundo — sem máscara.

Amostra selada, descarte feito. Mas o sistema travou a porta do laboratório. Um aviso piscava: “QUARENTENA ATIVADA — CONTAMINAÇÃO SUSPEITA.”

Fiquei preso por 18 horas. Nenhuma resposta aos meus chamados. Quando a porta abriu, havia uma nova mensagem: Regra Dois violada. Continue com extremo cuidado.

Capítulo 5: Os Sons no Fio

O protocolo de comunicação era rígido. Três transmissões diárias para o centro logístico, sempre nos mesmos horários.

Na sexta noite, enquanto aguardava o horário da última transmissão, ouvi algo diferente. Uma voz fraca, como se alguém falasse dentro do cabo de metal.

“Rafael... você está ouvindo?”

Arrepios me percorreram a espinha. Larguei o microfone. A voz repetiu, mais alta: “Rafael... responde...”

Segurei o fone e me afastei. Lembrei da Regra Três: Não responda. Não confirme sua presença.

O rádio crepitou por alguns minutos, depois silenciou. Mas a voz... eu ainda a ouvia em minha cabeça.

Capítulo 6: O Olho no Gelo

Havia uma torre de observação. Parte do protocolo era registrar qualquer movimento do lado de fora e manter os sensores perimetrais operantes.

Na madrugada do quinto dia, detectores ativaram sozinho. Subi até a torre. À distância, algo se movia — vagaroso, pesado, como se cavasse.

Usei os binóculos. Vi uma forma pálida, sem contornos definidos. Mas ela parou. Virou-se. E ali, onde deveria haver apenas gelo e vento, um olho negro me encarava.

A mão que segurava os binóculos tremia. Tive vontade de descer e ir atrás daquilo. Mas a Regra Quatro era clara: Não investigue. Observe apenas.

Fechei as janelas. Ativei todas as defesas. E rezei para que aquilo não chegasse mais perto.

Capítulo 7: Padrões no Chão

No penúltimo dia, encontrei algo estranho no corredor do setor de descontaminação. Um padrão em espiral, desenhado com gelo derretido.

Ao tocar o chão, senti o frio aumentar subitamente. O som ambiente desapareceu, como se eu tivesse mergulhado em água gelada.

Apareceu outra mensagem no painel: Eles passaram aqui. Saia imediatamente.

Fugi para o módulo de comando e tranquei as portas. Pela câmera, observei a espiral evaporar lentamente. O chão voltou ao normal. Mas o frio não passou. Ele ficou ali, comigo.

Capítulo 8: Última Noite

O cronômetro marcava 23 horas restantes. Eu não dormia havia dois dias.

Ouvi passos durante a madrugada. Mas ninguém mais estava na estação. Um som rítmico, como se pés descalços tocassem o metal.

Do outro lado da porta do dormitório, uma respiração baixa. Eu prendi a minha. Algo se aproximava. Parou. E cochichou, suave: “Obrigado por manter tudo funcionando.”

Ficou ali por um tempo que pareceu uma eternidade. E se foi.

Capítulo 9: Evacuação

O helicóptero pousou no horário marcado, ao meio-dia do sétimo dia.

Não olhei para trás ao sair. Não quis saber se alguém me observava da torre ou da neve.

No voo de volta, entreguei o cartão e o relatório. O piloto não disse nada. Apenas assentiu e me entregou um envelope selado. Dentro, um cheque. Valor total. Nenhuma explicação.

Capítulo 10: O Gelo Nunca Esquece

De volta à cidade, tentei esquecer. Vendi o carro, larguei o emprego.

Mas às vezes, o frio volta. Sem aviso. Uma brisa gélida dentro de casa.

E, de vez em quando, quando estou sozinho, o rádio liga sozinho.

E a voz diz meu nome.

Como se esperasse que eu voltasse.

Como se a estação de Kiros nunca tivesse me deixado sair, de fato.

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