Escola Serra Sombria
Você teria coragem de se aventurar nesta escola? Cuidado, pois lá é um antro de estranhezas...
2/4/20245 min read
Escola Serra Sombria
Você teria coragem de se aventurar nesta escola? Cuidado, pois lá é um antro de estranhezas...

Capítulo 1: A Proposta Irrecusável
A notícia chegou numa tarde abafada de dezembro, junto com a última assinatura no diploma de medicina. Gabriel, aos 27 anos, recém-formado, mal conseguia acreditar quando leu o e-mail: uma vaga exclusiva para residência clínica no Hospital Municipal de Serra Sombria, interior da Bahia. Salário inicial de R$ 25.000 mensais, alojamento próprio e alimentação incluída.
O hospital, segundo diziam, era antigo, fundado nos tempos do Brasil Império, mas reformado diversas vezes. Ainda assim, carregava um certo ar de mistério, com relatos vagos em fóruns online — histórias de pacientes que desapareciam, enfermeiras que pediam demissão de um dia para o outro, e um certo "Dr. Antunes", sempre mencionado, mas nunca visto.
Gabriel ignorou os rumores. Era um médico racional, cientificista. Superstição não fazia parte de seu vocabulário. Pegou o ônibus até a pequena vila encravada entre serras cobertas por neblina e mata fechada. O motorista o encarou por um tempo longo demais ao ouvir o destino.
— Serra Sombria, hein? Boa sorte, doutor...
No portão do hospital, um segurança o recebeu com um sorriso pálido e um envelope pardo. Dentro, havia seu crachá, uma chave de armário... e uma folha amarelada com o título: “Regras de Segurança para Médicos Noturnos”.
Capítulo 2: A Primeira Regra
Na primeira noite, Gabriel foi apresentado ao hospital por Dona Lucinda, a enfermeira-chefe. Ela era seca, direta, e parecia evitar contato visual por mais de alguns segundos. Antes de deixá-lo sozinho no plantão, ela apontou para o papel dobrado no bolso do jaleco dele.
— Seguiu as instruções?
— Que instruções?
— As regras. Vai precisar mais delas do que do estetoscópio.
A madrugada correu tranquila até 3h em ponto, quando o portão principal fechou com um estalo metálico que ecoou pelos corredores. Gabriel, sentado na sala dos médicos, quase cochilando, foi despertado por batidas frenéticas na entrada.
Correu até o portão. Lá fora, um homem coberto de sangue batia no metal, implorando socorro.
— Doutor, pelo amor de Deus! Minha esposa tá parindo! Ela tá sangrando demais!
Gabriel alcançou o molho de chaves, hesitante, quando se lembrou da primeira regra: “Entre 3 e 4 da manhã, não atenda ninguém. Diga que o Dr. Antunes já está a caminho.”
Com o coração acelerado, ele se aproximou da grade.
— O Dr. Antunes já está vindo. Ele vai cuidar de vocês.
O homem parou imediatamente. Os olhos dele se tornaram vazios, sem emoção. Sem mais uma palavra, virou-se e desapareceu no breu.
Capítulo 3: Manto Branco
Na terceira noite de plantão, Gabriel ouviu uma melodia ao longe — uma sanfona, suave e triste, arrastando-se pelos corredores como neblina fria.
Quando chegou à recepção, viu dois homens muito velhos, de chapéu de couro e olhar opaco, trazendo uma maca coberta por um manto branco.
— Ala leste — disse um deles, sem apresentar ninguém.
Gabriel se aproximou.
— Quem é o paciente? Que tipo de…
— Não pergunta — disse o outro.
Ele olhou para a maca. Havia algo imóvel sob o tecido, mas com um contorno estranho, não exatamente humano. Gabriel quis puxar o pano, só para verificar, mas lembrou da segunda regra: “Nunca retire o manto.”
Engoliu a curiosidade e indicou o caminho.
— Ala leste, quarto 9.
Os sanfoneiros assentiram. Ao vê-los dobrando o corredor, sentiu um calafrio e um súbito desejo de nunca mais perguntar nada.
Capítulo 4: A Idosa no Corredor
Na sexta noite, faltava pouco para as três quando a energia caiu. O hospital mergulhou em escuridão total, exceto por uma luz de emergência fraca no final do corredor.
E foi ali que ele a viu.
Uma idosa magra, de camisola branca, pele quase translúcida, cabelos longos como fios de teia. Ela apenas o observava, imóvel, sem piscar.
O instinto de socorro médico o fez dar um passo à frente. Mas a lembrança da terceira regra o segurou: “Fingir que não a viu. Ir para a sala de descanso. Esperar 10 minutos. Perguntar: ‘Você está aí?’”
Obedeceu, com o coração disparado.
Deitado no sofá da sala dos médicos, contou cada segundo. O tique-taque do relógio era a única coisa viva no ambiente.
Dez minutos.
— Você está aí? — perguntou, quase num sussurro.
Silêncio.
Quando voltou ao corredor, não havia mais ninguém.
Capítulo 5: O Som do Subsolo
Era madrugada do oitavo plantão quando os sons começaram.
Choros abafados. Sussurros desconexos.
Vinham do antigo necrotério, que Gabriel já havia visto trancado desde o primeiro dia. A escadaria que levava ao subsolo exalava um ar mofado e frio.
Ele se aproximou da porta.
— Tem alguém aí?
Uma voz feminina respondeu entre soluços:
— Me ajude, doutor... tá escuro aqui embaixo...
Gabriel segurou a maçaneta. A lembrança da quarta regra explodiu em sua mente: “Se ouvir choros ou sussurros do antigo necrotério, aumente o volume da TV. Nunca desça.”
Correu de volta, ligou a televisão, e colocou o volume no máximo. As vozes continuaram por quase cinco minutos, depois sumiram como se nunca tivessem existido.
Ele jamais contou a ninguém.
Capítulo 6: A Ala Leste
Gabriel nunca mais perguntou sobre os pacientes encobertos. Mas certo dia, precisou entrar na Ala Leste para buscar prontuários arquivados.
O corredor era mais frio que o resto do hospital. Luzes oscilavam. Quase todos os quartos estavam vazios, exceto o número 9.
Ele escutou um som abafado — como arranhar de unhas no vidro. Aproximou-se da porta, espiando pela pequena janelinha.
Não viu nada.
Mas sentiu algo observar de volta.
Decidiu não entrar.
Mais tarde, perguntou a Dona Lucinda:
— Quem são os pacientes da Ala Leste?
Ela apenas respondeu:
— São pacientes de Dr. Antunes.
Capítulo 7: Quem é o Dr. Antunes?
Aquela pergunta cresceu dentro de Gabriel até torná-lo obcecado.
Quem era Dr. Antunes? Ele não aparecia nos registros. Nenhuma foto. Nenhuma agenda de plantão. Mas todos sabiam o nome, todos o mencionavam como se fosse onipresente.
Na biblioteca do hospital, ele encontrou uma pasta antiga, escondida entre papéis mofados. Dentro, havia uma foto de 1893. A legenda dizia: Inauguração do Hospital de Serra Sombria – Diretor: Dr. Aníbal Antunes.
O homem na imagem parecia... igual a Gabriel. Mesmo rosto. Mesmo olhar.
Mas isso era impossível.
Ou não?
Capítulo 8: O Convite Final
Na décima segunda noite, a enfermeira Dona Lucinda entrou na sala dos médicos, segurando um envelope negro.
— Ele quer falar com você.
— Quem?
— O dono disso tudo. Dr. Antunes.
Gabriel seguiu até a escadaria do necrotério, onde encontrou a porta escancarada pela primeira vez. Lá dentro, uma sala ampla, iluminada por lamparinas. No centro, um homem alto, de terno antigo e olhos idênticos aos seus.
— Gabriel. Finalmente. Você aceitou as regras. Obedeceu. Viu o que era preciso. Está pronto.
— Pronto pra quê?
— Para ser mais do que médico. Para ser eterno. Como eu.
E então tudo apagou.
Capítulo 9: Serra Sombria Espera por Você
Na manhã seguinte, Gabriel não foi visto. Nem seus pertences estavam na sala dos médicos.
Dona Lucinda apenas sorriu para o novo residente que chegava, nervoso, crachá novo no peito.
— Seja bem-vindo. Aqui tem umas regrinhas simples. Vai achar no envelope.
E lá estavam as instruções.
Quatro regras. Um nome.
Dr. Antunes já está a caminho.
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